quarta-feira, 19 de novembro de 2008

perigo

O apoio à proliferação do desmatamento da Floresta Amazônica, a falta de agregação de valor aos produtos exportados, a maneira como garimpeiros e colonos são tratados no Norte, a aceleração dos grandes latifúndios exportadores, relações diplomáticas fracas com os vizinhos hermanos, a alta taxa de migração brasileira, a biopirataria, a enxorrada de dinheiro gasta com nosso funcionalismo público, falta de seriedade com a questão indígena - são alguns dos fatores que o autor aborda no livro e que gera, segundo ele, o subdesenvolvimento sustentável do Brasil.
Ou seja, um país como o Brasil possui um pontecial enorme para ser um Estado mais justo e melhor. Mas parece que sua herança colonial de colônia(!) o persegue, e ainda mais, persegue sua sociedade que não consegue, ou não quer, mudar. Tanto por culpa da manipulação de seus adminstradores e donos do poder, como por achar que essa situação é normal, que para nós já não há mais solução. Uma análise complexa de ser feita, já que quase 30% da nossa população tem que pensar em primeiro lugar, todos os dias, no que e como vai comer amanhã.
Uma parte muito interessante do livro é a que está reservada a América Latina - o que até me fez comprar um mapa. Incrível como sabemos - a maioria, claro - muito mais sobre a Europa ou Estados Unidos do que sobre nossos vizinhos. Se perguntarmos para alguém na rua sobre as crises da Argentina e dos EUA, com certeza teremos mais ignorância quanto a da Argentina. Entendo que são duas medidas, mas não queria entender.
Embora possua uma adjetivação meio forte e alguns chavões um tanto toscos, o conteúdo do livro vale muito a pena para aqueles que queiram conhecer mais sobre as relaçãoes políticas do Brasil na América Latina, e sobre nossa atual situação ambiental, principalmente no Norte.
É só conseguir chegar até o final!
PROCÓPIO, Argemiro. Subdesenvolvimento sustentável. 2. ed. rev. atual. Curitiba: Juruá, 2008. 352 p.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Estaremos livres?

Ao ler o título desse artigo fiquei altamente curiosa e surpresa. E entendi logo após a leitura o principal motivo dessa minha reação.
Quando percebemos de fato, não em rodinhas de conversa ou em reflexões curtas, mas sim quando incorporamos em nossa vida e suas ações a noção de que nosso sistema econômico dominante está presente e impregnado em tudo que nos cerca, não fica tão difícil perceber que até mesmo o seu curso que tem como lema a disponibilização da informação não consegue sair de seu ninho tecnicista-empreendedor - mesmo tendo muitos resistindo heroicamente .
“Mas é claro!” Foi o que pensei ao ler o artigo. É claro que fiquei surpresa com a proposta das autoras. Simplesmente pelo fato de que na nossa área ninguém se lembra que a todo instante estamos tomando decisões e aprendendo de acordo com as regras do capitalismo. E ninguém escreve ou pensa sobre isso, ou porque não vende e não está nos currículos atuais de pesquisa ou porque... dói.
A questão não é ficarmos fazendo panfletos a todo o momento e enfiando a baixo ou acima da sociedade, mas o importante é percebermos que não só nossa profissão, mas toda e qualquer deve está em sintonia com o bem estar da população como um todo, o mundo. E não me atrevo a falar o porquê, suas conseqüências e meios - vários autores falaram e falam isso bem melhor que eu.
Mesmo que seja difícil haver desprendimento entre esse mundo do ter e o aprendizado universitário, é essencial que ao menos os estudantes tenham a chance de escolher, de tomar sua própria decisão. Ainda temos em algumas Universidades públicas essa oportunidade, porém não muito estimulada.
Ainda chegará o dia em que nossos currículos terão disciplinas mais humanas, que formem iniciados ao saber e não só reprodutores sem razão.

MAIMKONE, Giovana Deliberali; et al. Reflexões sobre as influências do capitalismo no campo da biblioteconomia e ciência da informação. Enc. Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, n. 25, p. 174-187, jan./jun. 2008.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Idéia, artísta e público



Classe 7 da CDU: Arte. Belas-artes. Recreação. Diversões. Desportos. Especificamente 792: Representação teatral. Teatro.

Bom, na CDU, existe uma classificação que torna o livro que aborda essa temática acessível. Mas e o teatro? Ele é acessível? Ele é de fato produzido? Como? Para quem? Com que verba? Com que tipo de público?

Diferente - isso na minha visão - de outras artes, essa é essencialmente solidária e ao mesmo tempo tão exigente. Solidária pelo espaço que dá a outras formas de manisfestação artística, não só por se boazinha, mas por precisar de fato delas. As plásticas, a arquitetura, a música... Exigente por só conseguir ser completa - ou tentar - quando o público e o artísta fazem ambos seu trabalho, e bem feito. Um espetáculo que não cause uma sequência de percepções construtivas e, portanto, críticas em sua platéia não se vale da maior de suas funções e oportunidades: a construção e a liberdade de se fazer esta.

Um instrumento de cultura mágico - desculpem aos que não gostarem do instrumento, mas, também o entendo assim - que não me deixou escolhas a não ser admirá-lo e tentar ser boa o bastante para usurfruí-lo. E por ser um campo tão vasto e cheio de possibilidades, às vezes eu até me atrevo a tentar mais do que minhas, não tão grandes, pernas possam conseguir. Mas eu abstrai a parte do fracasso. O viver em si e o devir nesse meio, já me torna menos pior.

E quanto a uma frase de Magaldi, a qual ele fala que se todas as salas de teatro fossem fechadas hoje no Brasil não haveria comoção nacional, o último livro postado sobre bibliotecas possui a mesma, com outras palavras, mas com o mesmo sentido. Ou seja, nosso país ainda não percebe a importância cultural artística e informativa na sua formação enquanto ser humano, que pode ou não ser dotado de razão.

MAGALDI, Sábato. Iniciação ao teatro. 7. ed. São Paulo: Ática, 2004. 126 p.

O que será?



Ao final do livro Luis Milanesi escreve:
"(...) o brasileiro tem liberdade de comer, a desgraça é que falta comida. Com informação ocorre o mesmo, devendo ser anexada uma agravante: por vezes a comida é censurada."
Mais uma introdução no assunto biblioteconômico, ou, ao meu ver, assunto essencial a humanidade. E se todas as introduções forem como essa e a de Edson Nery, que venham todas! Cadê? Tem mais??
Bom, um livro pequeninho, mas bem pontual e claro. Aborda as principais dificuldades da área no Brasil, especialmente. E o mais triste de se constatar é que sua publicação foi em 1983, mas continua sendo extremamente atual. A crítica leva o leigo perceber que a Biblioteca está nos porões da iniciativa governamental e privada. E que tudo que alcançamos até hoje no assunto foi por verdadeiros entes perseverantes, que covardemente são contaminados pelo vírus da possibilidade de transformação, de crítica, de construção, de consciência, de atitude, de memória, de prazer e de vários outros "des" que a biblioteca e sua biblioteconomia podem oferecer ao mundo, e oferece, a duras penas.
MILANESI, Luis. O que é biblioteca? São Paulo: Brasiliense, 1983. (Coleção Primeiros Passos, 94.) 107 p.'

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

escolha

A escolha.
A escolha pertence a um caminho cheio de opções, com suas respectivas conseqüências. Que podem ser previstas, na maioria das vezes.
Saber escolher é fundamental, mesmo quando não existem outras opções. Essencial é saber o que você não quer.
Guiomar sempre soube. Viveu, e viveu. Um dia a escolha que ela sempre acreditou que tinha feito corretamente, foi realizada. Sim, porque nem sempre a gente possui o controle ideal para que a escolha se realize.
A escolha. O que é isso? E se o coração vier antes dela? E se uma grande gratidão a persuadir? A nossa escolha caminha com a escolha das pessoas que nos cercam. Aqueles mais sagazes conseguem conciliá-las.
Mas o interessante é quando uma outra pessoa encontra em sua escolha a dela. Aí, bom, aí você corre e tenta ver se a mão e a luva se encaixam.
Eu deleito ao sabor da minha luva.
ASSIS, Machado de. A mão e a luva. São Paulo: Globo, 1997. 107 p. (Obras completas de Machado de Assis).

sábado, 6 de setembro de 2008

mato grosso

Essa, devo admitir, foi uma obra lida mais por obrigação que por escolha.
Esperava algo diferente, não me rendi ao título.
A história de uma amor não sucedido e que não tem grandes diferenças de outros Românticos. A não ser pelo princípio de uma descrição mais real do ambiente, e situações menos fantasiosas.
O interessante é que ela se passa no interior de Mato Grosso, da segunda metade do século XIX, nunca havia lido nada que se passava em tal estado. Também interessante é a escolha que o autor faz de começar cada capítulo com citações de outros famosos autores, que dão ao leitor uma prévia - e até um rumo quanto a interpretação do que está por vim - dos próximos acontecimentos. Pelas notas do livro, percebemos que este autor não cometeu o mesmo erro de Alencar, ele foi de fato ao Mato Grosso conhecer o local, seus costumes e ambiente. Logo, nos sentimos menos bobos.
Ainda não sei bem o que essa obra é, e nem sei se devo saber, dizem que é romântico-realista. Com um fim que não é esteriotipamente "feliz", e nem personagens que mecereçam muitas observações, não foi um livro que me fez refletir, daqueles que você acaba e fica uns segundos olhando para o fim da última página tentando fingir que na primeira leitura algo foi apreendido. Mas tenho certeza que uma certa professora irá "salvar" essa obra para mim. Um livro lido nunca é perdido.
Bom, mas algumas páginas de literatura brasileira - ainda bem que brasileira.
TAUNAY, Alfredo d'Escragnolle. Inocência. 3. ed. São Paulo: FTD, 1996. 196 p.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Desafio II



Sim. Muito ânimo nesse início de semestre.
Não me vejo como uma gerente/diretora de biblioteca, mas achei no mínimo interessante o título do livro. Até porque a Administração me ronda nos últimos tempos. Expressões como "cultura organizacional", "gestão participativa" e "planejamento estratégico" não me causam mais aquela antiga cara feia, que queria dizer tanto desespero quanto ignorância - por mais óbvio que elas pareçam.
O certo é que muito pouco é bem feito quando não planejado, mesmo que por minutos na cabeça de um geniozinho. O importante é o processo de construir uma idéia que tenha meios de chegar ao sucesso, instintivamente ou não.
Nessa obra há algo sempre interessante aos que são da área de Biblioteconomia e aqueles que nem sabem o que é processamento técnico direito: as etapas que um livro passa para chegar à estante, e o meio pelo qual é possível que ele permaneça lá de forma "consumível".
As autoras mostram a cada tópico as atitudes e decisões sugeridas a um gestor de biblioteca, que antes de tudo precisa ser bibliotecário. A administração sozinha pode até dar certo, mas depois de muitos tropeços e experiência no assunto. Aliar nosso conhecimento biblioteconômico e essas - não tão confortáveis - premissas administrativas resultam, em sua maioria, em um bom trabalho.
Acredito que existam pessoas que não precisem ler o óbvio - para elas.
Um bom trabalho, que apenas sugere um caminho a ser seguido dentro de um sistema lindo, que proporciona muito para aqueles que o consomem. Queridas (!) - bem ou não administradas.
MACIEL, Alba Costa; MENDONÇA, Marília Alvarenga Rocha. Bibliotecas como organizações. Rio de Janeiro: Interciência; Niterói: Intertexto, 2006. 94 p.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Desafio (?!)


Acho que até hoje não encontrei nada de perfeito na vida. De repente seje porque nada é estático, logo o que hoje é bom amanhã depois de uma nova experiência já não o é. Até uma das minhas mais recentes descobertas "perfeitas" possui suas variações, por assim dizer, gosta de A-ha, enfim.
Isso para entender que a Biblioteconomia é sim algo maravilhoso, muito mesmo, mas para que ela tenha chegado ao que é hoje, e ao que foi ontem, o tal do dignóstico, projeto e planejamento tiveram que dar muita base estrutural. E é disso que Maria Christina fala em seu livro. Planejamentos de bibliotecas, como o próprio título super explicativo indica.
Sinceramente não é minha área de interesse e nem de afinidade. Há muitos conceitos administrativos que não entendo bem e muito método a ser seguido. Mas não desconsidero que é algo extremamente importante para que existam boas bibliotecas e más também.
Partindo da idéia que nada é perfeito (!), é necessário primeiramente uma avaliação da unidade de informação, e a partir de seus pontos fortes e fracos criar um planejamento que atenda à demanda que ali se encontra. E se a biblioteca não é sua, e se a estrutura financeira e humana não forem depender exclusivamente de você, é evidente que se faz necessário o mínimo de formalidade, um planejamento.
Nesso livro, de uma forma bem didádica, encontramos passo a passo os meios de construção de um bom planejamento condizente com a realidade da biblioteca em questão. Tanto uma que já existe, quanto uma que ainda está na planta.
Aprendi muito com essa leitura, não muito animada admito, principalmente porque não entendo muito desse mundo das decisões gerenciais, das políticas de fundos financeiros, questionários e suas metodologias e muito mais por aí. Mais entendi e gostei das questões que um bom planejamento - e lógico, uma boa aplicação do mesmo - pode contornar e solucionar em nossas, em sua maioria, necessitadas bibliotecas.
A apreensão passeia na preocupação da burocratização que planejamentos e mais planejamentos podem causar. É preciso que esteja bem claro que só eles de nada adiantam.
A Biblioteconomia ainda continua linda para mim. E vamos lá tentar em um semestre fazer um decente planejamento, que venha PSI!
ALMEIDA, Maria Christina Barbosa de. Planejamento de bibliotecas e serviços de informação. 2. ed. rev. e ampl. Brasília: Briquet de Lemos, 2005. 144 p.

sábado, 23 de agosto de 2008

Ainda o Brasil.



Pré-realismo, Romantismo ou Pós-romantismo. Não importa muito. O legal é que os escritores brasileiros deixam, a partir de então, aos poucos para trás aquela melação das mocinhas e mocinhos, do pseudo-nacionalismo, a distorcida idéia do bom selvagem e passam a tratar a sociedade brasileira de uma forma mais sincera.
Um protagonista errado, torto e tosco muitas vezes, vai permeando o cenário do Rio de Janeiro monárquico, ainda. Podemos ver algumas regras caindo e outras se construindo. O mestre-de-cerimônias - um padre - que não é de todo obediente às leis de sua igreja é mostrado de forma cômica pelo o autor que nos leva a observar que aquele Brasil já estava se modificando há muito. O poder da polícia - que ainda engatinhava - tomando cada vez mais força e a percepção que os anos de 1870, com guerras do paraguai, eusébios de queiroz vão influênciando novos comportamentos.
O amor aqui, não é o primeiro amor. Que sim, é importante, porém nem sempre o eterno. Talvez enquanto dure. O amor pode está naquilo que te desperta uma nova visão, um novo que ainda não havia encontrado em outra ou outro. Mas amanhã, bom, o amanhã vai ter que esperar para ver se ele, o amor, vai durar.
Um novo tom irônico, personagens nada previsíveis, intervenções na leitura e nos leitores, início de uma nova maneira de descrição. Que mais um pouco encontraríamos em outras memórias, em um Machado.
Não tenho maturidade e nem técnica para analisar de fato o romance. Mas a minha sensação logo após ler a última página foi a de está pronta para outros, isso para mim é sempre bom.
ALMEIDA, Manuel Antônio da. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: L&PM Pocket, 2002. 220 p.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Superestrutura


Partindo de uma análise materialista, este livro observa o nosso filhote Brasil em seus primeiros anos de política oficial, por assim dizer.
Terras dadas a rodo para portugueses que tinham a simples missão de colonizar um território recém invadido de grandíssimas proporções. Portugueses, dos quais poucos alcançam o objetivo proposto em vista de sua dificuldade, se transformam nos donos de grandes porções de terra, e que depois com a ajudinha - tardia - de Portugal recebem uns companheiros nas Sesmarias. Anos depois uma lei básica da lógica agrária no Brasil é empedrada - e até hoje vergonhosamente predominante -, um pequeno número de grandes latifundiários que dominam o controle sobre a terra brasileira. Mas eis que de repente surge um pequeno Bonaparte e enchota nossa tão "tradicional" família real para sua, agora, recém metrópole. A situação de poderio econômico começa a inverter. Agora os portugueses que dominavam o comércio e ficavam léguas atrás dos, já então, "brasileiros" fazendeiros/barões possuem uma ajuda quanto a sua ascensão: a sede do Império Português é aqui, nesse terra linda que tanto os deu lucros. Começa o início das disputas.
Sempre colocando a questão econômica como determinante, ou ao menos muito determinante, Prado Jr. vai pincelando superficialmente, como ele mesmo afirma, alguns dos caminhos que a política brasileira foi traçando de 1600 a 1889. Burguesia versus latifundiários. E no meio de tudo, e não menos influentes, os não abastados pelas regalias, os que tinham que lutar por algo tão nato do ser humano, a liberdade. O conjunto das revoltas, das disputas diplomáticas, das mudanças regimentais, os partidos políticos, e mais um bucado de importantes acontecimentos são lembrados de forma simples nesse breve livro, que me fez relembrar e reaproveitar muito.
Quanto aos ameríndios serem classificados como "bárbaros" para o autor, prefiro pensar que era um termo usado em 1933 para designar o que se tinha de mais pleno e sincero em termos de convívio humano na nossa mal tratada terra querida.
PRADO JR., Caio. Evolução política do Brasil: colônia e império. 16. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. 102 p.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

livro, livro e livro



Não tem como não começar com uma das melhores partes do livro:
"Dizem que um poeta francês foi uma vez apresentado a um riquíssimo banqueiro*. O apatacado personagem perguntou ao poeta:
- Para que serve a poesia?
E o poeta respondeu-lhe:
- Para o senhor, não serve para nada."
*Banqueiro e não bancário.

Com irônicas alfinetadas, Moraes cumpre o que propõe ao início do livro, um agradável bate papo sobre livros (!). E para aqueles que adoram um cheirinho de livro novo, ou cuidar com especial atenção daquele outro velhinho, enfim, quem já passou por sensações que só um livro pode proporcionar antes, durante e depois de sua leitura se sentirá confortável por essas páginas.

Novas descobertas, como a de que a imprensa não chegou com a família real e sim em 1747 com um outro português, como reconhecer que um livro antigo - que ainda não eram paginados, algo contemporâneo - está sem uma página ou foi reconstituído, a diferença entre coleção Brasiliana e Brasiliense, que bibliofilia é um exercício diário e que é enriquecido apenas com a experiência.

Tudo bem que Moraes às vezes é um pouco rigoroso, e acaba nos insultando de leve de uma forma dura, e que seu alto conhecimento na área deixa a desejar nas questões de relativismo e de regionalismo. Algumas poucas vezes me parece que certas observações carregam preconceitos bobos, que a mim não seriam permitidos a uma pessoa como ele. Uma hipótese muito grande de eu está com uma percepção errada é muito mais provável, eu sei.

Por segundos, em alguns parágrafos, deu uma vontade de colecionar livros de uma área tal. Mas logo percebi que não daria certo, iria querer ler todos, ou os emprestaria e, então, seria muito mal sucedida na proposta. Prefiro ter aqui em cima, nas prateleiras, só os mais chegados e queridos.

Bibliófilos seriam um dos guardiões da cultura nacional e mundial, uma das idéias que me vêm quando lembro destes. Porém me parece que também são guardiões no sentido maléfico. Porque é complicado um bibliófilo deixar que seu acervo seja consultado por pessoas de fora, ao mesmo tempo que se deixar, o mesmo logo ia se acabar, já que a maioria das obras são antigas. Uma boa conversa daria essa questão, olha aí Moraes!

Bibliofilia: Arte de colecionar livros tendo em vista circunstâncias especiais ligadas à publicação deles. (Mini Aurélio).

Ah sim, e se alguém com um ar assim de muito sabido vier me perguntar a partir de agora para que serve biblioteconomia, já sei uma ótima resposta.

MORAES, Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz. 4. ed. Brasília: Briquet de Lemos; Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005. 207 p.

terça-feira, 29 de julho de 2008

transpessoal.

"Além disso, quando vemos Deus como a sociedade de todas as sociedades possíveis, o estudo da sociologia adquire um novo e inesperado significado, e nós todos encontramo-nos imersos num Deus social, criado e criador, liberado e liberador - um Deus que, como Outro, exige participação, e que, como Eu, exige identidade."
É assim que Wilber acaba seu livro. Some a esse parágrafo assuntos como hermenêutica fenomenológica, tabu e mana, crença e fé, racionalismo, reducionismo...
Poderia dizer que entendi 5% do livro, e acho que desses 4,5% eu já tinha algum prévio conhecimento. Não sei se foi minha alta ignorância no assunto teorizado, mas não me empolguei tanto com as páginas, os novos capítulos, e nem mesmo quando veio o tão esperado "Alguns empregos da palavra 'religião'", um dos que mais me instigaram.
Cheguei a um ponto comum que já havia em mim de outras leituras, não nasci para tentar entender a psicologia. Como que uma análise que coloca no papel um questionário de qualidades físicas e "transpessoais" de um ser humano consegue dizer, com certa precisão, que ele sofre influências disso ou daquilo, ou até mesmo que ele está no nível racional transpessoal da coisa e que conseguiu a comunhão com o espírito?(!) - posso ter acabado de ter escrito uma grande bobagem, mas é o que eu sinto.
Para aqueles que não possuiem muita afinidade com fé e crença, fica mas complicado a leitura do livro, já que certas expressões deslegitimam o discurso perante aos conceitos. Falar de inferno e de energia externa ao ser humano, e colocando a ciência e teorias como fomento disso, causa a mim um estranhamento para lá de catártico, algo realmente estranho a mim, longe, e que não me faz pensar cognitivamente nada.
Com um vocabulário bem específico, este livro me fez perceber certas coisas que não entendia, mas muito mais me fez lembrar de tantos outros livros mais interessantes que estão a minha espera na estante - da biblioteca, da parada, do quarto, do amigo, do namorado, da irmã, do tio....

WILBER, Ken. Um deus social: breve introdução a uma sociologia transcendental. Tradução de Claudia Gerpe Duarte. 9.ed. São Paulo: Cultrix, 1993. 193 p.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

I, alfa, 1....



Estava me esquecendo como é fascinante conseguir chegar a resolução de algo por meio de raciocínios lógicos, com contas ou não. De uma coisa mais pura, por assim dizer.
Ir encontrando problemas que são facilmente resolvidos por um calculista afaga o local incerto em mim de que nem tudo possui uma resolução. E que muitas vezes a culpa dessa não solução é minha.
Para além da matemática, encontra-se nesse livro uma convivência com a cultura árabe e com sua religião mulçumana. Várias palavras e costumes ganham um glossário e notas de rodapé que tentam, acanhadamente, nos dar noção de uma realidade que normalmente não damos a mínima, simplesmente por não ser a nossa.
Não concordar com a idéia de que nem de perto a matemática esteja associada, em sua essência, a religião, fui lendo o livro e quebrando a repulsão invisível que tinha dele na estante, sempre era o próximo. Mal eu sabia que ao passar seus capítulos lembrei de grandes momentos da minha vida. Principalmente de Zimba, como até hoje lembro o dia que fui apresentada à equação do segundo grau, sua demonstração e sua resolução lendária vinda com a história do indiano Bháskara e sua filha.
Bom, a história do xadrez não me fez, ainda, ter por ele mais afeição, ainda prefiro um buraco, ou sudoku... e sei que o problema não está no tabuleiro, mas entre ele e a cadeira. Enfim.
No final do livro tive a impressão que muitos professores de matemática estão perdendo a oportunidade de não colocarem na lista do material escolar esse livro. E claro, fazer um trabalho junto aos professores de filosofia para que os mininos não pirem com as mecas, alás, palácios e tal e tal...
"Uma ciência natural é, apenas, uma ciência matemática." (Immanuel Kant)
TAHAN, Malba. O homem que calculava. 65. ed. Ilustrações de Thais Linhares. Rio de Janeiro: Record, 2004. 300 p.

domingo, 20 de julho de 2008

François-Marie Arouet


Primeiro é preciso que seja percebido o imenso fosso entre ser ignorante hoje e ignorante no século 16. Sim, porque Voltaire intitula uma de suas obras de forma altamente irônica para mim. Se ele era um filosófo ignorante, eu nem arrisco dizer o que sou. Tudo bem que eu entendo que quanto mais a gente aprende, menos sabemos, já dizia um outro grande filósofo. Mas é que nossa cultura rasa do século 20/21 chega a ser hilária. Dá pena mesmo. As pessoas aprendem coisas do mundo por meio de aulas capengas de um sistema educacional um tanto falido, assistindo a uma programação televisiva alienante e lendo livros adaptados..etc.etc. E não os culpo por isso. Nós nascemos e tudo estava assim. Alguns percebem que pode ser de outro jeito a tempo, outros possuem a sorte de terem em suas famílias pessoas iluminadas que desde muito não concordam com esse sistema. Mas deixemos disso, mais do mesmo é sempre um pouco cansativo.

Cheguei ao final dessa obra com uma sensação que venho sentindo em tantas outras que leio, de que tenho que ler isso tudo de novo no mínimo umas quatro vezes. Mas enquanto não o faço, vamos ao que me faz admirar um tanto esse moço voltaire.

É muito bom ler alguém que consegue materializar aquilo que você acredita e que ao mesmo tempo quase te convence daquilo que você realmente não acredita. Alma, substância e matéria. Assuntos altamente densos. Mas a explicação de que idéias vêm de sentimentos, e de que precisamos estar vivos para termos sentidos, é algo que me deixou saciada. Nunca concordei com a idéia de que nossa alma (?) sobrevive a morte. Só que, depois de alguns anos, numa carta a uma moça ele inverte quase tudo! É impossível afirmarmos que não existe um Ser. Tá. Tudo bem. Existe. Mas para que acreditar que ele é onipresente, onipotente e tal e tal. Paro por aí. A ignorância minha é tanta que nem me atrevo muito a discutir com o autor. Só não concordo.

Mais uma vez me sinto como se estivesse tomando um sorvete bem gostoso de creme com chocolate em uma tarde quente de verão da Bahia, quando ele começa a falar de cristianismo, "Esmagai a infâmia!"... um dia quando eu ler umas três vezes - no mínimo - a bíblia, eu leio umas outras cinco vezes voltaire de novo, e aí nem sei como vai ser. Sua ironia, doída, é incrível.

Idéia de justiça, metafísica, verdade, razão, sentimentos, enfim....não sei bem como escrever sobre tudo isso ainda. Só entendo que este é um dos grandes autores que pretendo continuar lendo. Mesmo que me machuque.

VOLTAIRE. O filósofo ignorante. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 202 p.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Vermelho

Dialética, revolução, classes, ruptura, socialismo, religião, história, educação e luta. Estão aí ótimos motivos para eu ler esse livro. É muito interessante como me sinto a vontade - mesmo não concordando - quando um autor fala dessas coisas todas questionando-as, trabalhando com elas. Algo muito difícil nos tempos de hoje - ou no meu tempo, de repente o problema seja comigo - é você sentar num banco e começar a falar com alguém de luta de classes, de como você ainda hoje e com sua idade já avançada (?) consegue acreditar em certos sonhos potenciais de mudança.
E justamente em um banco - mas este financeiro mesmo - que venho falando e lembrando um pouco disso ultimamente, este livro foi meio conseqüência disso.
Por que será que nenhum projeto revolucionário de mudança de sistema, como o socialismo e o comunismo, não deram plenamente certo tal qual o capitalismo? E qual seria a melhor escolha para se alcançar uma sociedade igual e liberta, liberta e igual? Neste livro, Joyeux, defende seu ponto de vista, e fala que a dialética enquanto forma ou meio de alcançar a revolução é algo falido, que serve mesmo para fazer uma manutenção do sistema. Como um bom pregador - só que nesse caso com várias bíblias - afirma que o Arnaquismo é a melhor maneira de sairmos dessa suja e injusta sociedade.
Concordo na linha da revolução e na questão da alienação religiosa, grande entrave àquela, mas não aceitaria que a dialética não constroi nada a não ser a mesma ordem, e que a educação é menos importante do que a luta. Ou mesmo que o Anarquismo, e os anarquistas, estão com a bola de cristal nas mãos e só por meio desse pensamento nos livraremos desse pequeno poço de merda humana, em sentido de ação e reação humana, que virou nossa sociedade. Os anarquistas podem sim ajudar, como não?! Mas vários outros o podem também.
De uma escrita bem tranquila e com uma linha de pensamento envolvente, acho que este foi um bom livro. É interessante tanto para aqueles que já possuem suas escolhas quanto para os que estão em busca. Ou não! Nem todo mundo precisa de escolhas...racionalmente.



JOYEUX, Maurice. Reflexões sobre a anarquia. Tradução de Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Imaginário, 1999. 88 p. (Coleção escritos anarquistas).

terça-feira, 8 de julho de 2008

Uma contínua introdução


"É difícil convencer tais pessoas [aquelas que desejam ser bibliotecárias somente porque, adorando livros, querem à força viver no meio deles] de que são bibliotecárias menos por amor aos livros do que aos leitores."
Um livro muito querido, que me fez relembrar os tão bons vividos anos de graduação que venho me dedicando. Tenho a certeza, assim como fala o autor, o editor e vários outros, que esta é uma obra fundamental para os estudantes de biblioteconomia, afins e aqueles que queiram conhecer a área. Nesse livro nos sentimos plenamente em casa: com termos técnicos, com o amor transbordado ao livro e à informação, com muito estudo que sabemos que temos que alcançar, com um humor especial de Edson que me fez lembrar de meus estágios e de meus queridos colegas de curso. E de perceber que nossa área, apesar de não ser devidamente reconhecida ainda, assim como tantas outras que também ajudam a sociedade a funcionar, é indispensável aos humanos que desejam praticar uma de suas características identificadoras, que é o fazer, praticar e consumir cultura.
Como a própria citação acima diz, não só o amor aos livros sustenta um bibliotecário, profissional ou estudante, desde já é necessário pensar no "fim" - se é que ele existe - do nosso trabalho: o tão citado usuário. Se ele não conseguir alcançar seu objetivo, nós também não alcançaremos.
O autor vai, por meio de tópicos - dividos em O livro, A biblioteca, Leitor/leitura e O bibliotecário - , nos levando a uma tentativa de síntese do que poderia ser o imenso mundo da biblioteconomia. E a cada página, mesmo com as discordâncias pequenas quanto seu tão adorado Gilberto Freyre e alguns pragmatismos, senti mais uma vez que se não estou no curso certo, estou indo no caminho certo.

FONSECA, Edson Nery da. Introdução à biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 2007. 152 p.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"eu que controlo o meu guidon"?

Essa não é uma (re)leitura, é algo constante.
Essa obra, para aqueles que a percebem, é interessante.
No meu caso, uma bola de neve de coisas descobertas, vividas, imaginadas, sonhadas.
Ele não é só um CD. Já na capa podemos passar horas - sozinhos - construindo.
Ao abrir o caderninho de letras, damos com um "monte o seu próprio bloco"... aí já começa a depressão. O que poderemos ser realmente?
Músicas como Todo Carnaval tem seu Fim e Mais uma Canção nos levam a um mundo duro se viver, mas lindo de se acreditar e contemplar - para mim, remetem a uma das coisas mais belas e duras que já conheci e que passei a acreditar. Um dia pintarei, de fato, meu nariz. Mesmo que por instantes.
Não tenho como descrever bem o conjunto artístico desse álbum, só entendo ele em seu resultado de persistência de sonho. Há sim como irmos contra ao banal, ao usual, ao fácil - com ou sem suing-. Não que Anna Júlia seja ruim, mas o Bloco trouxe uma diferente forma de se construir música.
Enfim. Melhor que esse CD, só o show ao vivo dele.
"Vaai!" - para sempre, mesmo que não presente.

Marcelo Camelo - voz e guitarra
Rodrigo Barba - bateria
Bruno Medina - teclado, piano e moog
Rodrigo Amarante - voz e guitarra
LOS HERMANOS. Bloco do eu sozinho. Produção: Chico Neves. Rio de Janeiro: BMG, c2001. 1 CD (49 min.)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Expedição Transatlântica.



Nunca li um livro tão frio. Sempre me pegava colocando um casaco ao lê-lo.

Em um mundo onde a Guerra era o foco mundial, um grupo de homens decide fazer a grande travessia do continente antártico que nunca fora efetivada. A travessia, porém, não teve importância principal na expedição. O limite humano da vida é o tema, sempre aliado ao imenso esforço do capitão da equipe, Shackleton.

Escrito de uma forma "bestsellerial", é uma leitura leve e interessante, por nos remeter a uma realidade que com certeza não temos muita experiência...gelo, foca, albatrozes, umidade, gelo, pinguim....

Bom para descansar.

LANSING, Alfred. A incrível viagem de shackleton. 2. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. 346 p.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

"dos Anjos" (?!!)

A Idéia


De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914).



Pré-moderno, simbolista ou parnasiano... as bobagens constantes nos rótulos literários são realmente um convite a nossa falta de interesse. Bilac não achou tão ruim assim a perda precoce de um autor tão singular naquela nova República.


A vida para Augusto, que de muito augusto tinham seus versos, era algo tão volátil que por vir ela do ser humano, não deveria ser levada na fantasia amável de um belo soneto. Vermes, dicotiledóneas, mitologias, cemitérios, vísceras, fedor...disso tudo se faz a vida, se vive.



ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Porto Alegre: L&pm Editores, 1998. 190p.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Seria Henfil DO, NO ou AO Brasil?!



Henrique de Souza Filho (1944-1988).


Daqueles que não aceitam a maré.
Daqueles que não agradam.
Daqueles que desconstróem o edificado.
Daqueles que deveriam nascer todos os dias.
Daqueles brasileiros que gostamos de lembrar que existiram.

De uma época que só passou superficialmente.

Afinal, o Henfil era do Brasil, no Brasil ou ao Brasil?


PEREGRINO, Júlia; DUARTE, Paulo Sérgio.(curadores). Henfil do Brasil. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2005.