quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Let's pretend...

O que seria entender a infinita possibilidade de conhecer aquilo que não existe? Mas que existe. Para você, em algum lugar, por algum caminho, por algum som, dentro de uma luz, ou através de um espelho.

A reflexão pode ser percebida de várias maneiras, possui muitos sentidos - dependendo da situação social e receptiva do sujeito - e pode confundir gramaticalmente. Mas quando ao envolvê-la com um espelho e uma criança, acompanhada de um gato, tudo pode ser capaz e possível.

Uma alegoria da vida que mostra que só não é possível aquilo que a gente não faz ser. E que no fim, tudo não passa de incorporações e influências, que um movimento percebe o outro e interage com o mundo. Um mundo que pode ter plantas falantes, isentos com formas ao pé da letra, rainhas indecisas, um cavaleiro que acredita que mesmo não conseguindo ele consegue e que depois de tudo você está mesmo é na sala da sua casa e não adianta mais, e a realidade só chega quando outros não acreditam junto com você. Bom, a não ser que sejamos fortes o suficiente para tentarmos imaginar e sonhar, claro para os que não são mais crianças, até o fim.

Para mim foi mais uma experiência altamente agradável. Embora eu encontre vários desafios quanto ao entendimento pela língua, acredito que sempre seja mais agradável ler no original, mesmo com todo esforço dos queridos tradutores. Um livro, que mesmo em português, merece ser lido mais vezes. Ainda preciso entender bem os movimentos do jogo de xadrez.

Queria às vezes poder ser, plenamente, Alice.

"Ever drifting down the stream

Ligering in the golden gleam -

Life, what is it but not a dream?"

CARROL, Lewis. Through the looking glass. Londres: Penguin Books, 1994. 173 p.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

de saída

Nunca fui de ler poesia, nunca achei que seria boa o suficiente. De repente seja medo de não entender. Mas aos poucos a gente vai vendo que só é entendível aquilo que você está proposto a se deixar gostar.

Tentei ir aberta a Leminski, na verdade, na mais pura ignorânca de sua existência até eu salvar esse livro de uma lista de descarte. Certa de que meus pré-conceitos, nem tão prés assim, iriam me atrapalhar, dexei para pensar bem nos escritos lá pelo meio do livro. Muitas formas e jogos de palavra, aliás, muitas brincadeiras vocabulísticas.

Confesso que fiquei assustada com algumas, da tamanha falta de ser. Não precisavam ter sido escritas para mim. Porém, outras me fizeram fechar o livro e deixar para amanhã, porque por hora a vida estava sendo muito difícil.
Ao mesmo tempo, depois de algumas tentativas em outros autores, percebo o tão difícil se torna analisar artísticamente uma obra, sem levar em conta tudo que tem escrito no mundo sobre arte e poesia. Portanto, para não pirar de vez, me fecho na minha imensa particular ignorância e tento apartir dela fazer um parecer breve de tudo.

E sim, P. Leminski me fez entender por um outro ângulo constrututivo e não pré-construído, o que já existe em nossas vidas. O que me faz ser mais e menos feliz, não deixando de entender o mundo de uma forma crítica, e não só escrita ou cuspida. Antes todas as páginas me fizessem sentir isso!
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisas que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
P. Leminski
LEMINSKI, Paulo. La vie en close. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. 181 p.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"quinoterapia"


A genialidade de propor que uma garotinha seja a porta voz de ideias altamente filosóficas e políticas, e fazer com que isso tudo gire em torno de outras crianças é incrível e me faz lembrar que o mundo pode ser belo, ao menos quando estamos perto de uma obra como esta.

Um livrinho, só no tamanho, que te faz morrer de rir numa página e na outra querer encontrar qualquer objeto pontiagudo que seja possível de provocar dor. Em especial nesse, é quando Mafalda ganha seu irmãozinho, e de repente não só será mais ela de criança naquela casa, que não deixa de ser uma regionalização do universo doméstico mundial. Afinal de contas, como só Mafalda vai consegui salvar seus pais da mediocridade do se fazer adulto e racional?! Novas possibilidades surgem, e consequentemente, novas e queridas tirinhas também.


Incrível é a forma como Quino faz, já que sabemos, porque todos fomos, que crianças são um processo de evolução decrescente. Caso nós todos conseguíssemos trabalhar com o lado espontâneo e ingênuo infantil para sempre - e nunca parar de desenhar - talvez mafaldinhas poderiam crescer e de fato tentar fazer algo racional por aí. Afinal de contas, porque será que mafalda nunca cresceu?


QUINO. Mafalda 6. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 139 p.