A Idéia
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914).
Pré-moderno, simbolista ou parnasiano... as bobagens constantes nos rótulos literários são realmente um convite a nossa falta de interesse. Bilac não achou tão ruim assim a perda precoce de um autor tão singular naquela nova República.
A vida para Augusto, que de muito augusto tinham seus versos, era algo tão volátil que por vir ela do ser humano, não deveria ser levada na fantasia amável de um belo soneto. Vermes, dicotiledóneas, mitologias, cemitérios, vísceras, fedor...disso tudo se faz a vida, se vive.
ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Porto Alegre: L&pm Editores, 1998. 190p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário