domingo, 15 de novembro de 2009

Dr. Fausto


“Do pé da serra forma um brejo o marco,
Toda a área conquistada infecta;
Drenar o apodrecido charco,
Seria isso a obra máxima, completa.
Espaço abro a milhões – lá a massa humana viva,
Se não segura, ao menos livre e ativa.
Fértil o campo, verde; homens, rebanhos,
Povoando, prósperos, os sítios ganhos,
Sob a colina que os sombreia e ampara,
Que a multidão ativa-intrépida amontoara.
Paradisíaco agro, ao centro e ao pé;
Lá fora brame, então, até à beira a maré.
E, se para invadi-la à força, lambe a terra,
Comum esforço acode e a brecha aberta cerra.
Sim! Da razão isto é a suprema luz,
A esse sentido, enfim, me entrego, ardente:
À liberdade e à vida só faz jus,
Quem tem de conquistá-las diariamente.
E assim, passam em luta e em destemor,
Criança, adulto e ancião, seus anos de labor.
Quisera eu ver tal povoamento novo,
E em solo livre ver-me em meio a um livre povo.
Sim, ao Momento então diria:
Oh! Para enfim – és tão formoso!
Jamais perecerá, de minha térrea via,
Este vestígio portentoso! –
Na ima presciência desse altíssimo contento,
Vivo ora o máximo, único momento.”

Últimas falas de Fausto. Bastam.
O que não basta é a leitura do livro, há de ser feita várias vezes na vida.
Não conseguiria explicar o que é bom, mal, exato ou vazio na obra. Na verdade, muito pouco eu entendi.
Ás vezes acho que não é para en-ten-der mesmo, pelo menos por enquanto.
O que tentar pensar depois de ler uma fala como a citada acima?!
Demais.


Essa é uma das traduções mais bem feitas da obra, segundo críticos. Jenny Klabin Segall traduziu as duas partes de Fausto, a primeira terminada em 1948 e a segunda lançada em 1970. Na verdade, são poucas as obras em português que possuem as duas partes de Fausto, partes essas que levaram quase a vida interia de Goethe para ficarem prontas, mais precisamente 63 anos. Algo que é feito nesse espaço de tempo e que é permitida a publicação por seu autor, com tamanha riqueza lírica e histórica... resulta como um dos livros mais importantes da literatura mundial.
GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Tradução de Jenny Klabin Segall. 5. ed.Belo Horizonte: Itatiaia, 2002. 457 p.

domingo, 27 de setembro de 2009

Alimento

O próprio autor admite o título um tanto abrangente, e que essa “história” nunca acabará.

Decididamente não consigo entender o que a leitura simboliza para mim, muito menos para as demais pessoas. Eu sinto que ela é uma das coisas mais úteis e belas que aprendi na vida, e com certeza, a mais potencial delas. Porque a leitura – não só a de informação registrada, mas principalmente – nunca para de me bater, de me afagar, de me surpreender.

O livro passa por uma linha que envolve tanto o leitor quanto o escritor. Nos mostra como o processo de leitura se deu – principalmente num foco ocidental – e as conseqüências dela na atualidade. Muita informação é passada, e de uma forma atraente, que metalinguisticamente nos faz querer saber o que o próximo capítulo vai nos falar sobre esse costume que se tornou tão fundamental dentre nós.

Porém, também percebemos que a leitura não é algo totalmente belo. Só o fato de existirem pessoas que não tem seu acesso, já é altamente duro de aceitar. Muitas já foram proibidas e queimadas, e ainda continuam, mas agora de forma mais moderna, com a substituição – para aqueles que a aceitam – dela por outras formas de comunicação, que ao contrário dos livros, já trazem uma interpretação cheia de tendencionismos e conceitos deturpados de sociedade e vida.

Vejo que entendo que só por meio dos livros conseguimos encontrar o caminho claro que nos leva a sermos o que pretendemos ser. Não há aula, conversa, revisões, programas televisivos, ou outros afins que substituam o momento em que apenas o leitor e o livro estão juntos, onde a construção do conhecimento se faz da forma mais pura que se pode ter – a partir do momento em que exista a liberdade da escolha de leitura.

Não gostaria de ser quem eu sou, se esse devir não tivesse tido a oportunidade de ler – o pouco – que já leu e que poderá – quem sabe – ler ainda. Por mais que existir não seja fácil, mas mais difícil ainda sem idéias, letras, frases avassaladoras e leituras que te movem a ser algo melhor.

















MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 405 p.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Directum

As leituras que nos, presenteiam com um tapa em nosso ego, são aquelas que mais aprecio. Não que essa tenha me dado um tapa avassalador, mas conseguiu reconsiderar meu conceito sobre o Direito e suas matérias específicas. Especialmente por dois capítulos, que tratam de mostrar ao leitor leigo o que vem a ser essa ciência tão antiga.

Não me culpo muito pelo avesso ao assunto que tinha – e acho que ainda tenho um pouco – já que moro em uma cidade onde uma das coisas mais estudadas-prostitutivamente é o direito. E não com o intuito do saber ou da aprimoração intelectual da coisa, mas com o de passar e passar em um “bom” concurso público. Caso formos para a parte capitalista da vida – aquela que sem uma revolução ou grandes abstenções não podemos fugir – ganhar um salário de cinco dígitos por mês não é tão ruim, mas ter que se abster da vida e de seus interesses próprios para isso não pode virar a regra de uma sociedade. Pois, parece ter virado. Mas não quero entrar nesse mérito – até porque posso me sabotar.

Alguns artigos desse livro me cativaram com descrição de uma face bela do Direito, os princípios de justiça, bom senso, dentre outros. Até porque se alguém se propõe a manusear informações jurídicas, nada mais óbvio que começar a se familiarizar com o assunto. E nessa parte que a leitura não ficou muito crível, já que não tenho muita experiência na área, e mesmo eu sendo um pouco mais cativada em relação ao Direito agora, admito que não é a área que gostaria de trabalhar no futuro.

Sabendo que – como já dito – moro em um lugar em que a probabilidade de se trabalhar com esse tipo de informação na minha área é muito grande, a leitura me pareceu útil e esclarecedora. Embora não tenha sido um dos melhores livros de biblioteconomia que eu já tenha lido.

PASSOS, Edilenice (org.). Informação jurídica: teoria e prática. Brasília: Thesauros, 2004. 237 p.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tolerantia


“Quanto aqueles que poderiam ficar um pouco assustados com os números, Vossa Paternidade poderá observar-lhes que, desde os dias florescentes da Igreja até 1707, isto é, durante cerca de 1.400 anos, a teologia já causou o massacre de mais de cinquenta milhões de homens, enquanto eu apenas proponho enforcar, degolar ou envenenar cerca de seis milhões (...)” (VOLTAIRE, 2008, p. 95).

Este é um trecho de uma carta escrita a um jesuíta por um seus seguidores ou colaboradores, transcrita por Voltaire em seu tratado. Não me parece algo surreal, de maneira alguma. Ainda hoje temos demonstrações de pensamentos como esse, e muito mais chulo, já que alguns governos pensam que humanos não são dotados de meios interpretativos e críticos de pensamento... enfim, prefiro acreditar que muitos são.

Mais para o fim do livro, tive uma impressão de que eu estava lendo algo altamente antropológico essencialmente. Falar em tolerância, em respeito e justiça – certo que não vamos nos ater a que tipo de justiça, ou justiça para quem, mas no contexto da França do século XVIII – não é muito fácil, assim como é perceptível com as críticas veladas e não veladas que Voltaire sai pincelando em seu texto. Mesmo em se falando em tolerância, como ser tolerante com os fanáticos = intolerantes?

Fácil é falar disso, quando não é seu pai que é condenado a ser enforcado em público por causa de um bando de religiosos que saíram à polvorosa nas ruas exigindo sua sentença, pelo simples fato da certeza de que, caso seus pensamentos discrepantes de razão não sejam legitimados, luzes exponenciais começarão a surgir na mente de muitos. Não digo aqui luzes de uma crença ou da descrença, mas luzes da eloqüência, da razão, da paixão...

Para sempre, essa luta contra a intolerância estará viva, pois que, seres humanos já demonstraram que suas escolhas, na maioria das vezes, não os levam a lugares tão diferentes desse. Certamente que me incluo nesse bojo. Tanto pelo fato, quanto pela vontade de não vivê-lo mais.

VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância: por ocasião da morte de Jean Calas (1973). Tradução de William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008. 127 p.

sábado, 20 de junho de 2009

Próspero e seus livros

Partindo-se do pré suposto de que qualquer obra adaptada para o cinema torna-se uma nova obra, uma nova linguagem, as duas obras em questão, A Tempestade de Shakespeare e sua adaptação Prospero’s Books de Grennaway, não apenas contam uma mesma história em suportes diferentes, mas possuem aspectos diversos intrínsecos a elas.

Grennway, com a característica de ser um diretor que se utiliza de várias linguagens em seus filmes, haja vista sua obra O Livro de Cabeceira, onde a linguagem escrita é exaustivamente utilizada para ajudar na simbologia proposta do filme, não deixa de lado essa técnica em Prospero’s Books. Nessa adaptação o diretor transforma os principais acontecimentos da peça de Shakespeare em uma espécie de remissiva para os livros que se encontravam na biblioteca de Próspero, o protagonista da história e (ex)duque de Napóles, onde cada um desses livros possuem em suas páginas um conteúdo correspondente, seja simbólico ou explicativo, dos acontecimentos que se seguem no filme. Estes não são apenas livros, mas todo o foco se concentra na leitura deles, aliás, livros belos, que no filme são cheios de magia, a qual o protagonista se utiliza para realizar seus planos de vingança.

De fato a utilização dos livros de Próspero para direcionar a trama do filme é o grande toque diferenciador e enriquecedor da adaptação. Não só assistimos aos acontecimentos no filme, como conseguimos associá-los às descrições dos livros feitas no decorrer da obra, além da técnica do diretor de sobrepor as cenas em diversos momentos, o que pode nos dar uma sensação mais reflexiva do que está acontecendo em determinada cena, o que nos leva a pensar na posição de um espectador em um teatro, onde ele possui a possibilidade de observar vários aspectos de uma cena, desde o cenário que não está compondo a cena principal, até as cortinas e demais componentes do local onde a apresentação está passando. Desta maneira, essa técnica de sobreposição dá ao espectador uma potencialidade de maior riqueza de detalhes e entendimento da trama.

Outro aspecto interessante no Prospero's Books é a decisão do autor de fazer quase que todas as cenas em estúdio, o que culmina em uma maior aproximação com a peça de Shakespeare, já que temos a ideia de que esta seria dramatizada em um cenário fixo, e não poderia ter a mesma flexibilidade que uma filmagem. Porém, ao mesmo tempo que Grennaway não se utiliza desse recurso cinematográfico em seu filme, ele usa de aspectos como a narração em off, a já citada sobreposição de cenas, técnicas gráficas – principalmente na parte em que são apresentados os livros de Próspero – etc.

Não há como compararmos a maneira como as mensagens da peça e do filme são passadas em termos de qualidade, pois, uma se utilizou de recursos teatrais somente e outra tanto destes como dos cinematográficos. Além de entendermos a diferença de tempo de uma obra para a outra, e todas as influências pontuais que cada autor sofreu na produção – aliás, esse aspecto é fundamental para a análise de qualquer obra artística.
Mas o que há para ser analisado é a capacidade que o adaptador conseguiu ao transmitir de novo, e com uma enorme riqueza artística, a obra de um grande – e por consequência, de difícil adaptação por seu já avassalador reconhecimento tanto no teatro quanto na psicologia e literatura – teatrólogo, e como com uma produção cheia de simbolismos e diferentes linguagens foi possível uma releitura, que pode ser feita independentemente da obra original, e melhor ainda com ela.

PROSPERO’S Books. Direção: Peter Grennaway. França; Holanda; Itália; Japão; Inglaterra: Allarts, 1991. 1 DVD (129 min), widescreen, color.

SHAKESPEARE, William. A tempestade. In:____. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1969. 2. v.

domingo, 12 de abril de 2009

Nosso desejo

Às vezes parece lindo.

Mas aí tento comparar, e me encontro em uma situação despropositada. Não há o que interpretar! Não estamos mais em uma sala onde esperam que você coloque um xis certo em tudo aquilo que falaram durante meses no seu ouvido. Falaram-me meses, semestres, anos. E depois de tudo isso, eu ainda sinto as paredes da sala a minha volta e... às vezes parece lindo. A minha luta não encontra, ainda, forças inspiradoras nesse mundo. Talvez seja a diferença de autores e autores, mas é sempre um grande exercício caminhar verso por verso. Principalmente quando chego ao final pensando que com certeza deveria ter lido melhor.

“Nosso desejo, de ainda não desejar, não se sabe desejo, e espera.” p. 29


ANDRADE, Carlos Drummond de. A vida passada a limpo: a falta que ama. Rio de Janeiro: Record, 1994. 127 p.

quinta-feira, 19 de março de 2009

informação organizada, ou quase

Um dos grandes desafios do estudo da Biblioteconomia é a recuperação da informação, principalmente com bons níveis de precisão. E é exatamente essa área que os autores desse livro abordam. Utilizando-se de técnicas ora tradicionais ora inovadoras, um problema como esse - em um mundo onde a produção do conhecimento não para de crescer – demanda muito estudo e muita pesquisa.

Algumas autoras, como Moura, buscam uma saída por meio da principal ponte entre a informação e o leitor/pesquisador/usuário: o bibliotecário ou profissional da informação – já que temos nessa área o museólogo e arquivista também, dentre outros. Como entender essa questão tão complexa, que é a ideal busca informacional, se não partimos do pré suposto de que ela é feita com uma ajuda muito grande de um profissional, e que é preciso entendê-lo também? Com um artigo que fala sobre o leitor-bibliotecário ela trabalha o tema da necessidade de que profissional não só exerça suas atividades bibliotecárias apenas, mas que na leitura – plena ou não, já que não vivemos em mundo ideal – de sua matéria prima, informação, ele saiba como, porque e para quem representar a mesma. É vital que ele aja de forma racional sua atividade leitora.

Outros textos já tentam abordar a importância da tecnologia e sua aplicação nessa área de organização informacional. Assim, vemos em análise uma das novas áreas de estudo em voga no meio biblioteconômico, a biblioteca digital. Como organizar um sistema como esse de modo que o usuário possa usufruir satisfatoriamente dessa tecnologia? E como sempre entramos com o nosso grande e querido problema... a indexação da informação, sua classificação para uma ótima saída/recuperação. Se já é difícil realizar essa tarefa em suporte físico, quem dirá em um suporte virtual, onde a produção é muito menos burocrática e mais dinâmica? Caminhos como a utilização de linguagens de marcação e metadados são mostrados, assim como a discussão do atual uso dos hipertextos. Sem esquecer uma nova abordagem de indexação, os sintagmas nominais. Aliás, temas esses que devem ser, pelo menos, conhecidos por afins da área, já que é algo que não pertence mais ao futuro.

NAVES, Madalena Martins Lopes; KURAMOTO, Hélio (Org.). Organização da informação: princípios e tendências. Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 2006. 142 p.

quarta-feira, 18 de março de 2009

relativismos

“(...) mais do que isso, o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas.” p. 36

Não há como pensarmos na humanidade sem nos lembrarmos de toda sua abundância em nefastos atos. Um emaranhado de atitudes e realizações que poderiam nunca ter acontecido. Intolerância, crueldade, fanatismo, verdades, mentiras. Tudo o que poderíamos encaixar no vocábulo “desumanidades”. Mas como algo é desumano se o próprio humano, radical antropológico e gramatical da palavra, o faz? O sentido todo é que corremos atrás de uma superficialidade existencial que não nos pertence, pelo menos ao grupo. Caso contrário, o mundo estaria muito melhor. Ou melhor! Sistemas econômicos estranguladores não vingariam, crenças estúpidas e marginalizadoras não criariam fiéis, o autoritarismo e o fanatismo não ganhariam seguidores dentre outras tantas desgraças – e digo (des)graças no sentido de “graça” ser algo esperado por uma mente/ser provido de justiça e de bom senso dentro de suas perspectivas sociais.

E mais uma vez, para entender toda essa confusão que é a minha espécie e o mundo onde eu vivo, e que eu ajudo a destruir, Laraia ajudou bastante. Não que ele tenha me devolvido a inocência que há tempos perdi, de que a vida é apenas para ser vivida, e que ela assim... desse jeito, normal. Ele nos mostra, por meio de sua especialidade acadêmica, que o homem é um ser altamente dinâmico, e que consegue ter uma característica que o diferencia dos outros seres, a produção cultural, a racionalidade – ou algo equivalente.

Tudo bem. Somos seres privilegiados por essa dádiva cerebral. Mas a partir do momento que você começa a entender – sendo esse entendimento coeso ou não – que é justamente essa característica que permite o homem ser o que é, nada fica melhor. É melhor ser um cachorro e não ter a vontade de matar um semelhante por interesses não vitais, ou não querer alienar toda uma massa para o seu único exclusivo ganho, do que ser um humano que tem a capacidade de criar uma obra artística, que consegue por meio de enes instrumentos e meios levar outro humano a um sentimento catártico e supremo de entendimento racional?!

Temos que pagar o preço então. Porque se temos mais de 5000 anos de existência e não conseguimos achar uma tolerância mundial entre nós mesmos, não há esperanças de que algo mude para melhor. Mas puxa! Somos humanos, e temos todas as ferramentas – racionais ou não – para mudarmos isso. Prefiro pensar assim às vezes.

E nesse bojo de realidade acre que temos que engolir – fazendo ou não fazendo nada para melhorá-la – temos um estudo sobre as relações humanas no que tange sua produção cultural = existência humana. Se todos entendessem que culturas diferentes podem ter valores de importância iguais, talvez, por aí, encontraríamos um caminho menos doloroso de respirar.

Respeito e racionalidade contínua.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 21. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.117 p.

terça-feira, 17 de março de 2009

água salgada


É. Histórias podem virar grandes sucessos de venda, mas ainda continuam a ser histórias. Acho que às vezes cansa mesmo ficar tentando “cognitar” tudo conscientemente. Então vamos apenas ler. Atrofiar um tinquim.


Com um herói já patenteado, o livro parece fazer parte de uma série de aventuras desses personagens que possuem como principal habilidade o mergulho e demais atividades marinhas.


Como um livro de aventura, esse não deixa de ter um capítulo sem emoção. Novamente usando uma linguagem bem fácil de ser levada, chegando ao ponto de ser piegamente brega nas descrições dos personagens e suas características.


Mas o mais importante é quando ele fala de Júlio Verne. E, particularmente, pelo fato de que eu não li nenhum dos dois livros mencionados no enredo pelo autor – Vinte mil léguas submarinas e A Ilha misteriosa. Acho que os capítulos que ficamos imaginando se a aventura do Capitão Nemo foi verdade ou não, vale pelo resto das quatrocentas e tantos páginas. Além, claro, das informações acerca de barcos, navios e submarinos que existem no livro, a gente sempre acaba aprendendo essas novidades tão distantes de nosso cotidiano. Dessa vez eu já sabia o que era bombordo e estibordo... A parte sobre os Vickings também não deixa de ser bem empolgante e misteriosa.


Não tão interessante como Shackleton, mas bonzinho para passar o tempo. Apesar de uma menina roubando livros e escondendo um judeu em plena segunda guerra mundial seja mais legal.


CUSSLER, Clive. Terror nos mares. Tradução de Samuel Dirceu. Rio de Janeiro: Geração Editorial, 2007. 500p


sexta-feira, 13 de março de 2009

agradabilidade (?)

Admito. Meu (pré)conceito a livros rotulados Best-sellers ainda atinge grandes níveis de repulsa. Não que eu ache que todos sejam ruins, ou não dignos de serem lidos. Mas sim que existem tantos outros vitais que precisamos ler antes, que soa como perda de tempo. Mas enfim, na ocasião não tinha muitas escolhas. E para falar a verdade, um livro com esse título com certeza me chama a atenção.

Logo percebo que a forma remete a uma rotulação de como se vender livros. Linguagem fácil e confortante, daquelas que você lê vinte páginas achando que foram duas. Trama com quesitos essenciais para boa vendagem: suspense, amor, aventura, medo, morte, alegria. Mas então... a vida.

Uma história bem bunitinha e querida. Principalmente quando o leitor em questão entende – um pouco, dentro da possibilidade humana - da importância dos livros e suas palavras na história da humanidade.

A menina que roubava livros coloca em choque sentimentos humanos dos mais controversos e cruéis, o que não deixa de ser normal. Em um país onde a tolerância é mínima, crianças vão crescendo e transformando seus mundos, principalmente uma menina, com seus livros de baixo do braço e um judeu no porão.
ZUSAK, Markus. A menina que roubava livros. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2007. 480 p.

terça-feira, 10 de março de 2009

nada


Como um bom poeta já falou: antes de mais nada...tudo.
É isso. Tudo.
Milhões de dúvidas e de respostas foram encontradas. A confirmação da amnésia temporária humana foi irrestrita.Não me atrevo mais. Não agora.


GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Tradução de Sílvio Meira. São Paulo: Abril Cultural, 1983. 277 p.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

foge que eu te encontro


Já no início nascemos um de cada vez, mesmo que sejamos gêmeos. O nascimento em si já é o início de algo que nos espera pela vida, a solidão. Ela existe em todos nós, acredito que pela insistente busca pela felicidade, ou por algo que a valha, e que, duramente, nunca é plenamente encontrada.

Digo nunca, por saber que a humanidade se fez mesquinha consigo mesma, tornou suas atitudes em medidas a serem cada vez mais consertadas, e que sabendo de sua razão única na natureza, se faz tão sem razão, tão sem humanidade.

A solidão principalmente daqueles que não acreditam que há salvação por fora, pela tangente, a não ser por suas próprias ações e pensamentos. Essa, talvez, seja mais dura.

Ela pode ser vivida de muitas formas, ou até mesmo ser esquecida no caminho. Mas sempre em algum momento ela surge lá, linda, grande e sempre presente. Resta-nos saber o que fazer com ela. Talvez adquirir uma São Bernardo, e perceber que mesmo vivendo nela e por ela, chega a hora que nem ela nos faz companhia.

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 67. ed. Rio de janeiro: Record, 1997. 219 p.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ilusão, vontade e dor




Não há como tentar compreender um livro desses sem antes ter contato com todas as referências que ele traz. Desde Goethe até Schopenhauer. Mas mesmo assim ele já algo altamente prazeroso de ser lido.

A arte é um tema muito complexo a ser discutido, porém sua relação com o público e sua “função” perante a humanidade, para mim, não chegam a ser impossíveis de conclusões. E nesse livro a arte dramática é lembrada por sua mais famosa época, a grega. A tragédia e seu coro é algo analisado perante uma ótica ocidental e moderna. Uma análise um tanto apaixonada, de um autor que sugere seu renascimento – sendo ele renascido ou não.

Bom, não diria que apreendi nem 40% da obra, mas que me fez relembrar bons momentos de estudo e conversas, e torná-los mais claros para mim.

A influência de Apolo e Dionísio no teatro é algo que para mim ainda deve ser analisado. O sonho e a realidade sempre devem ser estudados, principalmente quando percebemos que nossa existência está perante uma condição cruel e desalentadora, e que para que possamos viver nela, temos que saber que ela existe, e buscar – por meio de mitos ou não – sermos sinceros no pouco que nos resta de vontade de vivê-la.
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 177 p.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

antologia pessoal


Ultimamente a poesia vem caindo em minhas mãos. Vindas de vários lugares, alguns tão bons e queridos que nem posso imaginar como contar.
Quintana é um daqueles que sempre ouvir falar, mas nunca tinha conhecido, conversado, discutido e lido. Eis aqui minha primeira obra dele. Que vai a propósito dos próximos acontecimentos da minha vida.
Dessa vez quero escrever alguns de seus poemas, para que eu possa revê-los mais...


MEU BONDE PASSA PELO MERCADO
O que há de bom mesmo não está à venda
O que há de bom não custa nada.
Este momento é a flor da eternidade!
Minha alegria aguda até o grito...
Não essa alegria alvar das novelas baratas,
Pois minha alegria inclui também minha tristeza
- a nossa
Tristeza...
Meu companheiro de viagem, sabes?
Todos os bondes vão para o infinito!


Isso tudo me lembrou um certo livro, que dizia que a juventude passa, mas quando o estado de juventude começa a ir embora, algo está errado. Coisas estão mudando conforme a ideologia propõe. É vital que saibamos de nossas alegrias e tristezas, principalmente destas, que devem ser tratadas de perto. Porque nossos bondes vão sempre para o infinito, com o ou sem nossa interpretação bela da racionalidade humana.

AH! ESSES OLHARES...
Ah, esses olhares passeando, incômodas moscas,
Sobre a calma forçada da face dos mortos.
Poupai-me, amigos, tal humilhação
Ou, senão,
Pintai sobre minha face morta,
De orelha a orelha
Em vermelhão
Um silencioso, um debochativo sorriso de clown...
Aí podereis vir todos encarar-me então,
Curiosos, repugnantes vivos.


“Deixa eu brincar de ser feliz”. O bom da poesia é que ela, normalmente, é ágil na questão de te libertar de qualquer interpretação fechada de algo. Mas nada como ler esta e lembrar-se de certos tipos de artistas e sentimentos que ferem e cansam! Viveis, pois artistas!

O LUAR
O luar é a luz do sol que está sonhando...


Minhas saudades vão sonhando junto ao sol. Três meses não são tanta coisa assim, pelo menos para o sol.
QUINTANA, Mário. Preparativos de viagem. 4. ed. São Paulo: Globo, 1997. 133 p.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Let's pretend...

O que seria entender a infinita possibilidade de conhecer aquilo que não existe? Mas que existe. Para você, em algum lugar, por algum caminho, por algum som, dentro de uma luz, ou através de um espelho.

A reflexão pode ser percebida de várias maneiras, possui muitos sentidos - dependendo da situação social e receptiva do sujeito - e pode confundir gramaticalmente. Mas quando ao envolvê-la com um espelho e uma criança, acompanhada de um gato, tudo pode ser capaz e possível.

Uma alegoria da vida que mostra que só não é possível aquilo que a gente não faz ser. E que no fim, tudo não passa de incorporações e influências, que um movimento percebe o outro e interage com o mundo. Um mundo que pode ter plantas falantes, isentos com formas ao pé da letra, rainhas indecisas, um cavaleiro que acredita que mesmo não conseguindo ele consegue e que depois de tudo você está mesmo é na sala da sua casa e não adianta mais, e a realidade só chega quando outros não acreditam junto com você. Bom, a não ser que sejamos fortes o suficiente para tentarmos imaginar e sonhar, claro para os que não são mais crianças, até o fim.

Para mim foi mais uma experiência altamente agradável. Embora eu encontre vários desafios quanto ao entendimento pela língua, acredito que sempre seja mais agradável ler no original, mesmo com todo esforço dos queridos tradutores. Um livro, que mesmo em português, merece ser lido mais vezes. Ainda preciso entender bem os movimentos do jogo de xadrez.

Queria às vezes poder ser, plenamente, Alice.

"Ever drifting down the stream

Ligering in the golden gleam -

Life, what is it but not a dream?"

CARROL, Lewis. Through the looking glass. Londres: Penguin Books, 1994. 173 p.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

de saída

Nunca fui de ler poesia, nunca achei que seria boa o suficiente. De repente seja medo de não entender. Mas aos poucos a gente vai vendo que só é entendível aquilo que você está proposto a se deixar gostar.

Tentei ir aberta a Leminski, na verdade, na mais pura ignorânca de sua existência até eu salvar esse livro de uma lista de descarte. Certa de que meus pré-conceitos, nem tão prés assim, iriam me atrapalhar, dexei para pensar bem nos escritos lá pelo meio do livro. Muitas formas e jogos de palavra, aliás, muitas brincadeiras vocabulísticas.

Confesso que fiquei assustada com algumas, da tamanha falta de ser. Não precisavam ter sido escritas para mim. Porém, outras me fizeram fechar o livro e deixar para amanhã, porque por hora a vida estava sendo muito difícil.
Ao mesmo tempo, depois de algumas tentativas em outros autores, percebo o tão difícil se torna analisar artísticamente uma obra, sem levar em conta tudo que tem escrito no mundo sobre arte e poesia. Portanto, para não pirar de vez, me fecho na minha imensa particular ignorância e tento apartir dela fazer um parecer breve de tudo.

E sim, P. Leminski me fez entender por um outro ângulo constrututivo e não pré-construído, o que já existe em nossas vidas. O que me faz ser mais e menos feliz, não deixando de entender o mundo de uma forma crítica, e não só escrita ou cuspida. Antes todas as páginas me fizessem sentir isso!
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisas que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
P. Leminski
LEMINSKI, Paulo. La vie en close. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. 181 p.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"quinoterapia"


A genialidade de propor que uma garotinha seja a porta voz de ideias altamente filosóficas e políticas, e fazer com que isso tudo gire em torno de outras crianças é incrível e me faz lembrar que o mundo pode ser belo, ao menos quando estamos perto de uma obra como esta.

Um livrinho, só no tamanho, que te faz morrer de rir numa página e na outra querer encontrar qualquer objeto pontiagudo que seja possível de provocar dor. Em especial nesse, é quando Mafalda ganha seu irmãozinho, e de repente não só será mais ela de criança naquela casa, que não deixa de ser uma regionalização do universo doméstico mundial. Afinal de contas, como só Mafalda vai consegui salvar seus pais da mediocridade do se fazer adulto e racional?! Novas possibilidades surgem, e consequentemente, novas e queridas tirinhas também.


Incrível é a forma como Quino faz, já que sabemos, porque todos fomos, que crianças são um processo de evolução decrescente. Caso nós todos conseguíssemos trabalhar com o lado espontâneo e ingênuo infantil para sempre - e nunca parar de desenhar - talvez mafaldinhas poderiam crescer e de fato tentar fazer algo racional por aí. Afinal de contas, porque será que mafalda nunca cresceu?


QUINO. Mafalda 6. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 139 p.