quarta-feira, 18 de março de 2009

relativismos

“(...) mais do que isso, o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas.” p. 36

Não há como pensarmos na humanidade sem nos lembrarmos de toda sua abundância em nefastos atos. Um emaranhado de atitudes e realizações que poderiam nunca ter acontecido. Intolerância, crueldade, fanatismo, verdades, mentiras. Tudo o que poderíamos encaixar no vocábulo “desumanidades”. Mas como algo é desumano se o próprio humano, radical antropológico e gramatical da palavra, o faz? O sentido todo é que corremos atrás de uma superficialidade existencial que não nos pertence, pelo menos ao grupo. Caso contrário, o mundo estaria muito melhor. Ou melhor! Sistemas econômicos estranguladores não vingariam, crenças estúpidas e marginalizadoras não criariam fiéis, o autoritarismo e o fanatismo não ganhariam seguidores dentre outras tantas desgraças – e digo (des)graças no sentido de “graça” ser algo esperado por uma mente/ser provido de justiça e de bom senso dentro de suas perspectivas sociais.

E mais uma vez, para entender toda essa confusão que é a minha espécie e o mundo onde eu vivo, e que eu ajudo a destruir, Laraia ajudou bastante. Não que ele tenha me devolvido a inocência que há tempos perdi, de que a vida é apenas para ser vivida, e que ela assim... desse jeito, normal. Ele nos mostra, por meio de sua especialidade acadêmica, que o homem é um ser altamente dinâmico, e que consegue ter uma característica que o diferencia dos outros seres, a produção cultural, a racionalidade – ou algo equivalente.

Tudo bem. Somos seres privilegiados por essa dádiva cerebral. Mas a partir do momento que você começa a entender – sendo esse entendimento coeso ou não – que é justamente essa característica que permite o homem ser o que é, nada fica melhor. É melhor ser um cachorro e não ter a vontade de matar um semelhante por interesses não vitais, ou não querer alienar toda uma massa para o seu único exclusivo ganho, do que ser um humano que tem a capacidade de criar uma obra artística, que consegue por meio de enes instrumentos e meios levar outro humano a um sentimento catártico e supremo de entendimento racional?!

Temos que pagar o preço então. Porque se temos mais de 5000 anos de existência e não conseguimos achar uma tolerância mundial entre nós mesmos, não há esperanças de que algo mude para melhor. Mas puxa! Somos humanos, e temos todas as ferramentas – racionais ou não – para mudarmos isso. Prefiro pensar assim às vezes.

E nesse bojo de realidade acre que temos que engolir – fazendo ou não fazendo nada para melhorá-la – temos um estudo sobre as relações humanas no que tange sua produção cultural = existência humana. Se todos entendessem que culturas diferentes podem ter valores de importância iguais, talvez, por aí, encontraríamos um caminho menos doloroso de respirar.

Respeito e racionalidade contínua.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 21. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.117 p.

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