terça-feira, 29 de julho de 2008

transpessoal.

"Além disso, quando vemos Deus como a sociedade de todas as sociedades possíveis, o estudo da sociologia adquire um novo e inesperado significado, e nós todos encontramo-nos imersos num Deus social, criado e criador, liberado e liberador - um Deus que, como Outro, exige participação, e que, como Eu, exige identidade."
É assim que Wilber acaba seu livro. Some a esse parágrafo assuntos como hermenêutica fenomenológica, tabu e mana, crença e fé, racionalismo, reducionismo...
Poderia dizer que entendi 5% do livro, e acho que desses 4,5% eu já tinha algum prévio conhecimento. Não sei se foi minha alta ignorância no assunto teorizado, mas não me empolguei tanto com as páginas, os novos capítulos, e nem mesmo quando veio o tão esperado "Alguns empregos da palavra 'religião'", um dos que mais me instigaram.
Cheguei a um ponto comum que já havia em mim de outras leituras, não nasci para tentar entender a psicologia. Como que uma análise que coloca no papel um questionário de qualidades físicas e "transpessoais" de um ser humano consegue dizer, com certa precisão, que ele sofre influências disso ou daquilo, ou até mesmo que ele está no nível racional transpessoal da coisa e que conseguiu a comunhão com o espírito?(!) - posso ter acabado de ter escrito uma grande bobagem, mas é o que eu sinto.
Para aqueles que não possuiem muita afinidade com fé e crença, fica mas complicado a leitura do livro, já que certas expressões deslegitimam o discurso perante aos conceitos. Falar de inferno e de energia externa ao ser humano, e colocando a ciência e teorias como fomento disso, causa a mim um estranhamento para lá de catártico, algo realmente estranho a mim, longe, e que não me faz pensar cognitivamente nada.
Com um vocabulário bem específico, este livro me fez perceber certas coisas que não entendia, mas muito mais me fez lembrar de tantos outros livros mais interessantes que estão a minha espera na estante - da biblioteca, da parada, do quarto, do amigo, do namorado, da irmã, do tio....

WILBER, Ken. Um deus social: breve introdução a uma sociologia transcendental. Tradução de Claudia Gerpe Duarte. 9.ed. São Paulo: Cultrix, 1993. 193 p.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

I, alfa, 1....



Estava me esquecendo como é fascinante conseguir chegar a resolução de algo por meio de raciocínios lógicos, com contas ou não. De uma coisa mais pura, por assim dizer.
Ir encontrando problemas que são facilmente resolvidos por um calculista afaga o local incerto em mim de que nem tudo possui uma resolução. E que muitas vezes a culpa dessa não solução é minha.
Para além da matemática, encontra-se nesse livro uma convivência com a cultura árabe e com sua religião mulçumana. Várias palavras e costumes ganham um glossário e notas de rodapé que tentam, acanhadamente, nos dar noção de uma realidade que normalmente não damos a mínima, simplesmente por não ser a nossa.
Não concordar com a idéia de que nem de perto a matemática esteja associada, em sua essência, a religião, fui lendo o livro e quebrando a repulsão invisível que tinha dele na estante, sempre era o próximo. Mal eu sabia que ao passar seus capítulos lembrei de grandes momentos da minha vida. Principalmente de Zimba, como até hoje lembro o dia que fui apresentada à equação do segundo grau, sua demonstração e sua resolução lendária vinda com a história do indiano Bháskara e sua filha.
Bom, a história do xadrez não me fez, ainda, ter por ele mais afeição, ainda prefiro um buraco, ou sudoku... e sei que o problema não está no tabuleiro, mas entre ele e a cadeira. Enfim.
No final do livro tive a impressão que muitos professores de matemática estão perdendo a oportunidade de não colocarem na lista do material escolar esse livro. E claro, fazer um trabalho junto aos professores de filosofia para que os mininos não pirem com as mecas, alás, palácios e tal e tal...
"Uma ciência natural é, apenas, uma ciência matemática." (Immanuel Kant)
TAHAN, Malba. O homem que calculava. 65. ed. Ilustrações de Thais Linhares. Rio de Janeiro: Record, 2004. 300 p.

domingo, 20 de julho de 2008

François-Marie Arouet


Primeiro é preciso que seja percebido o imenso fosso entre ser ignorante hoje e ignorante no século 16. Sim, porque Voltaire intitula uma de suas obras de forma altamente irônica para mim. Se ele era um filosófo ignorante, eu nem arrisco dizer o que sou. Tudo bem que eu entendo que quanto mais a gente aprende, menos sabemos, já dizia um outro grande filósofo. Mas é que nossa cultura rasa do século 20/21 chega a ser hilária. Dá pena mesmo. As pessoas aprendem coisas do mundo por meio de aulas capengas de um sistema educacional um tanto falido, assistindo a uma programação televisiva alienante e lendo livros adaptados..etc.etc. E não os culpo por isso. Nós nascemos e tudo estava assim. Alguns percebem que pode ser de outro jeito a tempo, outros possuem a sorte de terem em suas famílias pessoas iluminadas que desde muito não concordam com esse sistema. Mas deixemos disso, mais do mesmo é sempre um pouco cansativo.

Cheguei ao final dessa obra com uma sensação que venho sentindo em tantas outras que leio, de que tenho que ler isso tudo de novo no mínimo umas quatro vezes. Mas enquanto não o faço, vamos ao que me faz admirar um tanto esse moço voltaire.

É muito bom ler alguém que consegue materializar aquilo que você acredita e que ao mesmo tempo quase te convence daquilo que você realmente não acredita. Alma, substância e matéria. Assuntos altamente densos. Mas a explicação de que idéias vêm de sentimentos, e de que precisamos estar vivos para termos sentidos, é algo que me deixou saciada. Nunca concordei com a idéia de que nossa alma (?) sobrevive a morte. Só que, depois de alguns anos, numa carta a uma moça ele inverte quase tudo! É impossível afirmarmos que não existe um Ser. Tá. Tudo bem. Existe. Mas para que acreditar que ele é onipresente, onipotente e tal e tal. Paro por aí. A ignorância minha é tanta que nem me atrevo muito a discutir com o autor. Só não concordo.

Mais uma vez me sinto como se estivesse tomando um sorvete bem gostoso de creme com chocolate em uma tarde quente de verão da Bahia, quando ele começa a falar de cristianismo, "Esmagai a infâmia!"... um dia quando eu ler umas três vezes - no mínimo - a bíblia, eu leio umas outras cinco vezes voltaire de novo, e aí nem sei como vai ser. Sua ironia, doída, é incrível.

Idéia de justiça, metafísica, verdade, razão, sentimentos, enfim....não sei bem como escrever sobre tudo isso ainda. Só entendo que este é um dos grandes autores que pretendo continuar lendo. Mesmo que me machuque.

VOLTAIRE. O filósofo ignorante. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 202 p.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Vermelho

Dialética, revolução, classes, ruptura, socialismo, religião, história, educação e luta. Estão aí ótimos motivos para eu ler esse livro. É muito interessante como me sinto a vontade - mesmo não concordando - quando um autor fala dessas coisas todas questionando-as, trabalhando com elas. Algo muito difícil nos tempos de hoje - ou no meu tempo, de repente o problema seja comigo - é você sentar num banco e começar a falar com alguém de luta de classes, de como você ainda hoje e com sua idade já avançada (?) consegue acreditar em certos sonhos potenciais de mudança.
E justamente em um banco - mas este financeiro mesmo - que venho falando e lembrando um pouco disso ultimamente, este livro foi meio conseqüência disso.
Por que será que nenhum projeto revolucionário de mudança de sistema, como o socialismo e o comunismo, não deram plenamente certo tal qual o capitalismo? E qual seria a melhor escolha para se alcançar uma sociedade igual e liberta, liberta e igual? Neste livro, Joyeux, defende seu ponto de vista, e fala que a dialética enquanto forma ou meio de alcançar a revolução é algo falido, que serve mesmo para fazer uma manutenção do sistema. Como um bom pregador - só que nesse caso com várias bíblias - afirma que o Arnaquismo é a melhor maneira de sairmos dessa suja e injusta sociedade.
Concordo na linha da revolução e na questão da alienação religiosa, grande entrave àquela, mas não aceitaria que a dialética não constroi nada a não ser a mesma ordem, e que a educação é menos importante do que a luta. Ou mesmo que o Anarquismo, e os anarquistas, estão com a bola de cristal nas mãos e só por meio desse pensamento nos livraremos desse pequeno poço de merda humana, em sentido de ação e reação humana, que virou nossa sociedade. Os anarquistas podem sim ajudar, como não?! Mas vários outros o podem também.
De uma escrita bem tranquila e com uma linha de pensamento envolvente, acho que este foi um bom livro. É interessante tanto para aqueles que já possuem suas escolhas quanto para os que estão em busca. Ou não! Nem todo mundo precisa de escolhas...racionalmente.



JOYEUX, Maurice. Reflexões sobre a anarquia. Tradução de Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Imaginário, 1999. 88 p. (Coleção escritos anarquistas).

terça-feira, 8 de julho de 2008

Uma contínua introdução


"É difícil convencer tais pessoas [aquelas que desejam ser bibliotecárias somente porque, adorando livros, querem à força viver no meio deles] de que são bibliotecárias menos por amor aos livros do que aos leitores."
Um livro muito querido, que me fez relembrar os tão bons vividos anos de graduação que venho me dedicando. Tenho a certeza, assim como fala o autor, o editor e vários outros, que esta é uma obra fundamental para os estudantes de biblioteconomia, afins e aqueles que queiram conhecer a área. Nesse livro nos sentimos plenamente em casa: com termos técnicos, com o amor transbordado ao livro e à informação, com muito estudo que sabemos que temos que alcançar, com um humor especial de Edson que me fez lembrar de meus estágios e de meus queridos colegas de curso. E de perceber que nossa área, apesar de não ser devidamente reconhecida ainda, assim como tantas outras que também ajudam a sociedade a funcionar, é indispensável aos humanos que desejam praticar uma de suas características identificadoras, que é o fazer, praticar e consumir cultura.
Como a própria citação acima diz, não só o amor aos livros sustenta um bibliotecário, profissional ou estudante, desde já é necessário pensar no "fim" - se é que ele existe - do nosso trabalho: o tão citado usuário. Se ele não conseguir alcançar seu objetivo, nós também não alcançaremos.
O autor vai, por meio de tópicos - dividos em O livro, A biblioteca, Leitor/leitura e O bibliotecário - , nos levando a uma tentativa de síntese do que poderia ser o imenso mundo da biblioteconomia. E a cada página, mesmo com as discordâncias pequenas quanto seu tão adorado Gilberto Freyre e alguns pragmatismos, senti mais uma vez que se não estou no curso certo, estou indo no caminho certo.

FONSECA, Edson Nery da. Introdução à biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 2007. 152 p.