quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

foge que eu te encontro


Já no início nascemos um de cada vez, mesmo que sejamos gêmeos. O nascimento em si já é o início de algo que nos espera pela vida, a solidão. Ela existe em todos nós, acredito que pela insistente busca pela felicidade, ou por algo que a valha, e que, duramente, nunca é plenamente encontrada.

Digo nunca, por saber que a humanidade se fez mesquinha consigo mesma, tornou suas atitudes em medidas a serem cada vez mais consertadas, e que sabendo de sua razão única na natureza, se faz tão sem razão, tão sem humanidade.

A solidão principalmente daqueles que não acreditam que há salvação por fora, pela tangente, a não ser por suas próprias ações e pensamentos. Essa, talvez, seja mais dura.

Ela pode ser vivida de muitas formas, ou até mesmo ser esquecida no caminho. Mas sempre em algum momento ela surge lá, linda, grande e sempre presente. Resta-nos saber o que fazer com ela. Talvez adquirir uma São Bernardo, e perceber que mesmo vivendo nela e por ela, chega a hora que nem ela nos faz companhia.

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 67. ed. Rio de janeiro: Record, 1997. 219 p.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ilusão, vontade e dor




Não há como tentar compreender um livro desses sem antes ter contato com todas as referências que ele traz. Desde Goethe até Schopenhauer. Mas mesmo assim ele já algo altamente prazeroso de ser lido.

A arte é um tema muito complexo a ser discutido, porém sua relação com o público e sua “função” perante a humanidade, para mim, não chegam a ser impossíveis de conclusões. E nesse livro a arte dramática é lembrada por sua mais famosa época, a grega. A tragédia e seu coro é algo analisado perante uma ótica ocidental e moderna. Uma análise um tanto apaixonada, de um autor que sugere seu renascimento – sendo ele renascido ou não.

Bom, não diria que apreendi nem 40% da obra, mas que me fez relembrar bons momentos de estudo e conversas, e torná-los mais claros para mim.

A influência de Apolo e Dionísio no teatro é algo que para mim ainda deve ser analisado. O sonho e a realidade sempre devem ser estudados, principalmente quando percebemos que nossa existência está perante uma condição cruel e desalentadora, e que para que possamos viver nela, temos que saber que ela existe, e buscar – por meio de mitos ou não – sermos sinceros no pouco que nos resta de vontade de vivê-la.
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 177 p.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

antologia pessoal


Ultimamente a poesia vem caindo em minhas mãos. Vindas de vários lugares, alguns tão bons e queridos que nem posso imaginar como contar.
Quintana é um daqueles que sempre ouvir falar, mas nunca tinha conhecido, conversado, discutido e lido. Eis aqui minha primeira obra dele. Que vai a propósito dos próximos acontecimentos da minha vida.
Dessa vez quero escrever alguns de seus poemas, para que eu possa revê-los mais...


MEU BONDE PASSA PELO MERCADO
O que há de bom mesmo não está à venda
O que há de bom não custa nada.
Este momento é a flor da eternidade!
Minha alegria aguda até o grito...
Não essa alegria alvar das novelas baratas,
Pois minha alegria inclui também minha tristeza
- a nossa
Tristeza...
Meu companheiro de viagem, sabes?
Todos os bondes vão para o infinito!


Isso tudo me lembrou um certo livro, que dizia que a juventude passa, mas quando o estado de juventude começa a ir embora, algo está errado. Coisas estão mudando conforme a ideologia propõe. É vital que saibamos de nossas alegrias e tristezas, principalmente destas, que devem ser tratadas de perto. Porque nossos bondes vão sempre para o infinito, com o ou sem nossa interpretação bela da racionalidade humana.

AH! ESSES OLHARES...
Ah, esses olhares passeando, incômodas moscas,
Sobre a calma forçada da face dos mortos.
Poupai-me, amigos, tal humilhação
Ou, senão,
Pintai sobre minha face morta,
De orelha a orelha
Em vermelhão
Um silencioso, um debochativo sorriso de clown...
Aí podereis vir todos encarar-me então,
Curiosos, repugnantes vivos.


“Deixa eu brincar de ser feliz”. O bom da poesia é que ela, normalmente, é ágil na questão de te libertar de qualquer interpretação fechada de algo. Mas nada como ler esta e lembrar-se de certos tipos de artistas e sentimentos que ferem e cansam! Viveis, pois artistas!

O LUAR
O luar é a luz do sol que está sonhando...


Minhas saudades vão sonhando junto ao sol. Três meses não são tanta coisa assim, pelo menos para o sol.
QUINTANA, Mário. Preparativos de viagem. 4. ed. São Paulo: Globo, 1997. 133 p.