terça-feira, 2 de março de 2010

Dias de Metrópole?


Nunca deixo de ficar confusa com a história do Brasil, a maneira como os fatos podem significar.

A terra fora invadida, premeditadamente, e de imediato explorada, física e conceitualmente. Vieram nossos salvadores (!) da iluminação-religiosa-ocidental reavivar as almas dos “nativos”, vieram os primeiros grandes latifundiários, os primeiros administradores corruptos, e os cultos e dignos europeus com sua mais nova mercadoria: os escravos.

Alguns ciclos de exploração se formaram - madeira, ouro, cana-de-açúcar e outros mais. E de repente, uns 300 anos depois, um homem baixinho resolve abalar um pouco os ânimos políticos da Europa e manda uma corte inteira junto com sua família real para uma de suas colônias. Nossa! A primeira vez na história que um Rei pisa em uma.

E então, em menos de vinte anos, um território continental pula de patamar e evolui tanto economicamente como socialmente. O que não havia conseguido em séculos. Sim, mas não vamos nos esquecer que foi dessa mesma corte que derivaram os primeiros invasores, lá no século XVI.

Não. Não tenho o menor orgulho dessa colonização. Tenho – naturalmente, já que só estou aqui por causa desses fatos – uma identificação com a história que se fez resultante disso. Das Praieiras, Farroupilhas, Palmares, guerrilhas urbanas... Assim como de toda manifestação cultural que temos, incomparável.

E então, quando me pego nessa sensação nacionalista, começo a não entender mais a História. Incrível o que seres humanos podem transformar quando estão juntos, e quando usam de sua racionalidade e criação. Resulta em uma reviravolta de significados que dão em significantes sublimes.

O livro de Laurentino trata de aspectos como esses, em tons mais brandos, e como ele mesmo diz: de uma maneira menos acadêmica. Uma leitura interessante, sem grandes compromissos estéticos, e bem informativo.

Como esquecer! Um dos principais fios condutores do livro e o triunfo final do mesmo, o Sr. Luiz Joaquim dos Santos Morrocos, talvez não fora arquivista real. O moço trabalhava em uma das mais respeitadas bi-bli-o-te-cas da Europa.  Chegou ao Brasil e continuou com essa mesma incumbência. Seria mesmo essa a profissão? A-ham. Isso proclama um pouco o tom da obra.

GOMES, Lautentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2. ed. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009. 367 p.

Um comentário:

Luiz Felipe disse...

Mais do que um adendo a história tão complexa do país, considerei o livro uma ode aos profissionais da biblioteconomia, arquivologia e museologia. É impossível não ficar impressionado com a quantidade de trabalho que o autor teve relendo as notas e todo o material anciliar. Incrível