domingo, 15 de novembro de 2009

Dr. Fausto


“Do pé da serra forma um brejo o marco,
Toda a área conquistada infecta;
Drenar o apodrecido charco,
Seria isso a obra máxima, completa.
Espaço abro a milhões – lá a massa humana viva,
Se não segura, ao menos livre e ativa.
Fértil o campo, verde; homens, rebanhos,
Povoando, prósperos, os sítios ganhos,
Sob a colina que os sombreia e ampara,
Que a multidão ativa-intrépida amontoara.
Paradisíaco agro, ao centro e ao pé;
Lá fora brame, então, até à beira a maré.
E, se para invadi-la à força, lambe a terra,
Comum esforço acode e a brecha aberta cerra.
Sim! Da razão isto é a suprema luz,
A esse sentido, enfim, me entrego, ardente:
À liberdade e à vida só faz jus,
Quem tem de conquistá-las diariamente.
E assim, passam em luta e em destemor,
Criança, adulto e ancião, seus anos de labor.
Quisera eu ver tal povoamento novo,
E em solo livre ver-me em meio a um livre povo.
Sim, ao Momento então diria:
Oh! Para enfim – és tão formoso!
Jamais perecerá, de minha térrea via,
Este vestígio portentoso! –
Na ima presciência desse altíssimo contento,
Vivo ora o máximo, único momento.”

Últimas falas de Fausto. Bastam.
O que não basta é a leitura do livro, há de ser feita várias vezes na vida.
Não conseguiria explicar o que é bom, mal, exato ou vazio na obra. Na verdade, muito pouco eu entendi.
Ás vezes acho que não é para en-ten-der mesmo, pelo menos por enquanto.
O que tentar pensar depois de ler uma fala como a citada acima?!
Demais.


Essa é uma das traduções mais bem feitas da obra, segundo críticos. Jenny Klabin Segall traduziu as duas partes de Fausto, a primeira terminada em 1948 e a segunda lançada em 1970. Na verdade, são poucas as obras em português que possuem as duas partes de Fausto, partes essas que levaram quase a vida interia de Goethe para ficarem prontas, mais precisamente 63 anos. Algo que é feito nesse espaço de tempo e que é permitida a publicação por seu autor, com tamanha riqueza lírica e histórica... resulta como um dos livros mais importantes da literatura mundial.
GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Tradução de Jenny Klabin Segall. 5. ed.Belo Horizonte: Itatiaia, 2002. 457 p.