quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tempos idos (?)


Não começarei pela natureza da escrita. Ainda que tenha sido, talvez, meu primeiro Best-seller jornalístico (!).

O livro é configurado em uma grande entrevista, recheada por provocações sensacionalistas que, é claro, nos leva a curiosidade de ler a resposta.

Não é minha primeira referência sobre assuntos de nossa época tão covardemente gloriosa, a ditadura. Aliás, a referência principal – grande sucesso literário escrito pelo entrevistado – eu já havia consultado logo no início de minha curiosidade pelo assunto, há uns seis anos atrás.

Dói ler a conclusão de que a utopia não leva alguém a grandes resultados, e que os sonhos... ah! Esses só são grandes e poderosos até os 30 anos (e olha lá). Comparar um jovem jornalista guerrilheiro em um contexto de total arbitrariedade e violência por parte de uma república tomada e um homem deputado e vivido em tempos de democracia (aquela que a gente conhece) dá nisso. Mas será que sempre dá?

Gabeira defende que tudo deve ser analisado em seu contexto, e que, fatalmente, um dia revisaremos todas nossas atitudes idas. Ele não renega suas lutas do século passado, mas admite os erros e os impulsos (tão belos) que cometeu.

O entrevistado até tenta levar alguns assuntos interessantes a um plano de debate intelectual pensável, mas Geneton precisou manter sua política de estilo e venda, falar do que causa polêmica rasa é garantia de livro na vitrine da loja. Fiquei irritada com as mais de cinco perguntas a questionar se Gabeira apertaria ou não o gatilho de sua pistola, se fosse necessário, para matar o embaixador estadunidense.

Das coisas mais interessantes do livro, Tim Maia e Glauber Rocha se destacam. O primeiro querendo ser senador e o segundo programando seu novo filme com filmagens reais da guerrilha brasileira contra ditadura. Nenhum dos dois realizaria tais feitos. Talvez, infelizmente!

Mesmo lendo as conclusões, ou suas tentativas, de um homem que ajudou a combater um período toscamente inconfundível de nossa história, não me distancio de exercitar a mania “jovem” de sonhar – sim, o impossível. Entender a fala de um revolucionário mexicano pouco antes de matar um estadunidense: “Desculpe-me, tenho de te matar para mostrar-te o quanto te quero.” Mesmo sabendo que eu não seria forte o suficiente para todos os detalhes do sonho.

O certo é que a vida é muito longa e cheia de dias velozes. Principalmente os primeiros...


MORAES NETO, Geneton. Dossiê Gabeira: o filme que nunca foi feito. São Paulo: Globo, 2009. 259 p.