“Quanto aqueles que poderiam ficar um pouco assustados com os números, Vossa Paternidade poderá observar-lhes que, desde os dias florescentes da Igreja até 1707, isto é, durante cerca de 1.400 anos, a teologia já causou o massacre de mais de cinquenta milhões de homens, enquanto eu apenas proponho enforcar, degolar ou envenenar cerca de seis milhões (...)” (VOLTAIRE, 2008, p. 95).
Este é um trecho de uma carta escrita a um jesuíta por um seus seguidores ou colaboradores, transcrita por Voltaire em seu tratado. Não me parece algo surreal, de maneira alguma. Ainda hoje temos demonstrações de pensamentos como esse, e muito mais chulo, já que alguns governos pensam que humanos não são dotados de meios interpretativos e críticos de pensamento... enfim, prefiro acreditar que muitos são.
Mais para o fim do livro, tive uma impressão de que eu estava lendo algo altamente antropológico essencialmente. Falar em tolerância, em respeito e justiça – certo que não vamos nos ater a que tipo de justiça, ou justiça para quem, mas no contexto da França do século XVIII – não é muito fácil, assim como é perceptível com as críticas veladas e não veladas que Voltaire sai pincelando em seu texto. Mesmo em se falando em tolerância, como ser tolerante com os fanáticos = intolerantes?
Fácil é falar disso, quando não é seu pai que é condenado a ser enforcado em público por causa de um bando de religiosos que saíram à polvorosa nas ruas exigindo sua sentença, pelo simples fato da certeza de que, caso seus pensamentos discrepantes de razão não sejam legitimados, luzes exponenciais começarão a surgir na mente de muitos. Não digo aqui luzes de uma crença ou da descrença, mas luzes da eloqüência, da razão, da paixão...
Para sempre, essa luta contra a intolerância estará viva, pois que, seres humanos já demonstraram que suas escolhas, na maioria das vezes, não os levam a lugares tão diferentes desse. Certamente que me incluo nesse bojo. Tanto pelo fato, quanto pela vontade de não vivê-lo mais.
VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância: por ocasião da morte de Jean Calas (1973). Tradução de William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008. 127 p.
Este é um trecho de uma carta escrita a um jesuíta por um seus seguidores ou colaboradores, transcrita por Voltaire em seu tratado. Não me parece algo surreal, de maneira alguma. Ainda hoje temos demonstrações de pensamentos como esse, e muito mais chulo, já que alguns governos pensam que humanos não são dotados de meios interpretativos e críticos de pensamento... enfim, prefiro acreditar que muitos são.
Mais para o fim do livro, tive uma impressão de que eu estava lendo algo altamente antropológico essencialmente. Falar em tolerância, em respeito e justiça – certo que não vamos nos ater a que tipo de justiça, ou justiça para quem, mas no contexto da França do século XVIII – não é muito fácil, assim como é perceptível com as críticas veladas e não veladas que Voltaire sai pincelando em seu texto. Mesmo em se falando em tolerância, como ser tolerante com os fanáticos = intolerantes?
Fácil é falar disso, quando não é seu pai que é condenado a ser enforcado em público por causa de um bando de religiosos que saíram à polvorosa nas ruas exigindo sua sentença, pelo simples fato da certeza de que, caso seus pensamentos discrepantes de razão não sejam legitimados, luzes exponenciais começarão a surgir na mente de muitos. Não digo aqui luzes de uma crença ou da descrença, mas luzes da eloqüência, da razão, da paixão...
Para sempre, essa luta contra a intolerância estará viva, pois que, seres humanos já demonstraram que suas escolhas, na maioria das vezes, não os levam a lugares tão diferentes desse. Certamente que me incluo nesse bojo. Tanto pelo fato, quanto pela vontade de não vivê-lo mais.
VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância: por ocasião da morte de Jean Calas (1973). Tradução de William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2008. 127 p.